sábado, 24 de maio de 2014

Escolher quem nos represente foi um direito conquistado…

... e, se me permitem escrever do que sei por experiência vivida, não foi conquista fácil!
Viver em sociedade, como seres humanos que somos, implica direitos e deveres. De todos para com todos. É certo que há diferenças, que cada um de nós é único. Mas há princípios e valores que respeitam a todos. Ninguém discute alguns direitos, mas há relações sociais que, ao privilegiar os interesses individuais, por o egoísmo prevalecer sobre a solidariedade, agridem esses direitos, ou até os anulam em relação a muitos dos contemporâneos e, sem disso se ter clara consciência colectiva, também aos vindouros.

Dizer que se vive em democracia é afirmação fácil que se comprova no facto do voto, enquanto direito de todos, ter sido conquistado. Duramente, insiste-se. Para homens e mulheres.

Mas a democracia tem, como a sociedade, várias vertentes: política, económica, social, cultural. E sendo o voto necessário, como forma de se escolher quem possa representar outros, ou todos de um colectivo nas instituições (e nas colectividades, quais elas sejam), não é suficiente e exige uma questão prévia: a informação de quem escolhe relativamente a quem o vai representar, quais as suas intenções, programas, projectos. Só dessa informação pode resultar uma relação de confiança, que o “prestar de contas” permanente confirmará ou infirmará.

Não haverá eleições mais complexas que estas que se aproximam. Porque é para um órgão que nada diz aos representados, aos cidadãos que escolhem, e, do que sabem, pouco é ou é propaganda e desinformação. Porque essa escolha, para esse órgão, é de enorme importância, num mundo cada vez mais internacionalizado, nem por isso menos baseado no local, nas vivências quotidianas. De quem escolhe quem os represente.

Entre 22 e 25 de Maio, em 28 países, Estados-membros de uma dita União Europeia (de que a “trempe” que nos infernizou  a vida – e ameaça continuar – tinha dois “pés”, a Comissão e o Banco Central Europeu), um universo de mais de 500 milhões de pessoas vai escolher 751 deputados que os vão representar num Parlamento (dito) Europeu. A nós, portugueses, cabe-nos escolher 21 – já foram 25 – e será no domingo, 25.

Mas não só é para uma instituição longínqua, pouco e mal conhecida, como se desconhecem quase totalmente os candidatos. Não é como escolher os vizinhos que melhor estarão na Junta, ou os próximos que irão para a Câmara, ou os candidatos do nosso distrito que irão para a Assembleia da República. São listas nacionais, não da freguesia, do município ou da região. E para irem representar-nos em Bruxelas e Estrasburgo (ainda há uma terceira sede – administrativa e judicial –, no Luxemburgo). Por isso mesmo, a informação, as ideias, os programas, ainda seriam mais necessários para uma escolha consciente.

No entanto, essa informação é possível por via directa do conhecimento vivido (e sofrido) das políticas e estratégias que nos têm vindo da U.E., de que têm sido veículos e protagonistas os partidos que, desde os anos 80, nos têm (des)governado – PS, PSD, CDS –, “bons alunos”, mais que disciplinados, obedientes ao que uma Noruega recusou duas vezes, a Suiça não quer, o Reino Unido, a Dinamarca, a Suécia optaram por ficar de fora (da moeda única, por exemplo).

Por isso, antes de tudo, a escolha de quem nos represente tem a ver com o país que se quer numa Europa que não seja o que a U.E. pretende ser, mas uma Europa solidária e em paz. Por isso, o voto de cada um parecendo indiferente ou inútil, é uma decisão importante. Única, imprescindível.
É um dever, como sempre a contrapartida de um direito conquistado!

Sérgio Ribeiro

texto enviado para o Notícias de Ourém para ser publicado em 23/05/2014            

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