Entrar às
oito da manhã preparada para aguentar seis horas de pé, até que a medo
pergunta:
- Posso ir
almoçar? Eis que se repete a resposta:
- Quando os
últimos saírem podes ir …
Abre com receio o frigorífico, nada será pior do que o que comera no dia anterior, sem espanto repete a refeição, os seus olhos quase não tem tempo para olhar a refeição de requinte a ser servida aos clientes, tem vinte minutos para engolir sem quase mastigar, hoje teve a sorte de ninguém a chamar no seu “grande” intervalo.
Copeira, empregada de sala, loja ou de limpeza, rececionista ou ainda todas numa só, ESCR….Queria dizer o nome mas é demais descritivo para quem possa estar a ler esta crónica.
Esperam-lhe mais cinco horas até que alguma voz se lembre de dizer:
-Vai lá
buscá-la …mas não demores, ainda temos três grupos!
Numa corrida
chega depois da hora, é convidada a assinar algo que a vai fazer pagar mais na
mensalidade, olha para a pequena que lhe esboça um sorriso, mas que teima em não
ir com ela, ambas não tem tido tempo de criar laços de confiança.
Num choro
penoso lá vão as duas, a casa a vizinha é logo ali a frente…. Já no colo da vizinha
a pequena levanta o braço para dizer adeus, algo que aprendera a fazer desde sempre.
De volta
conta os trocados que lhe restam no “pobre-moedas”, as despesas aumentam, sabe
que já não poderá contar com a reforma da mãe pois essa é repartida com o Estado
Português.
A categoria
de “economista” junta-se ao seu currículo alargado.
De avental
colocado há que fazer cara feliz para não afastar a clientela, prevê-se uma
noite longa, a sua saída não sabe, se for como de costume, às nove e pouco está
despachadinha.
Ouve-se as dez badalas da Basílica do Santuário de Fátima, só agora recolhe a sua pequena já a dormir.
Amanha é outro
dia, irão passar pelo menos mais seis até que possa gozar o seu único dia de
folga semanal, pois o fim-de-semana não existe para ela, e ferias? Férias só
para o próximo inverno, inverno esse que conta passar num lugar paradisíaco
chamado “FUNDO DO DESEMPREGO”.
Com 485 euros mensais e mais umas esmolas por cada fim-de-semana, não deu para juntar nada para umas férias nas Caraíbas ou até mesmo aqui bem perto na Serra da Estrela!
Vai aguardar
até que a sua Cidade seja inundada de peregrinos, talvez nessa altura alguém se
lembre de a chamar de novo.
Esta é a
realidade que já vi e ouvi de varias trabalhadoras e mães a Elas presto o meu
voto de louvor.
Ate quando
trabalhador? Trabalhador sim, mas com direitos…direito a outra palavra no
dicionário, pois a mesma tem outro significado.
Cláudia Filipa Pinéu
in Notícias de Ourém, 2 de Maio 2014
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