sábado, 18 de janeiro de 2014

Tenho de ir ali fazer um telefonema

Falar de saneamento básico provoca sempre riso e, em oposição, também o riso pode provocar uma ida apressada aos sanitários. Obrar é um ato solitário por excelência, a sua abordagem tanto provoca humor como constrangimento mas o desenvolvimento urbano tornou o assunto sério, exigindo a confluência das excreções de todos e bem assim do seu encaminhamento e tratamento, chegando ao ponto de já existir o Dia Mundial do Saneamento -19 de novembro.

Por cá, lá para os lados do Agroal, já se dão voltas a muita desta matéria mas estamos ainda longe de atingir os cem por cento de cobertura de rede de saneamento. Este um objetivo sempre prometido em tempo de eleições, com garantia de conclusão a prazo de mandato mas sempre adiada, talvez porque as pessoas não se preocupam muito com estas necessidades. Afinal de contas, elas sempre fizeram as suas necessidades sem morrerem afundadas no resultado da satisfação delas.

Manda a ordem natural das sociedades que o saneamento básico é serviço público e, é portanto respeitável, que quem se candidata aos cargos públicos do município se preocupe com o assunto incluindo-o nas suas agendas eleitorais. Assim foi nas últimas eleições autárquicas em que o PS local pôs também a boca no saneamento e, fazendo uso da sua génese socialista, tirou da sacola a parceria público-privada  como solução. Produziu até um documento de 12 páginas sobre o assunto na modalidade popular de “respostas a perguntas frequentes” onde tenta provar as “só vantagens” do modelo proposto. Apesar do conhecimento dos resultados catastróficos destas engenharias financeiras no plano nacional, apesar da consciência que, no mínimo, qualquer câmara municipal deve ter capacidade técnica para gerir os esgotos, apesar de se reconhecer, entre risos, que o cúmulo do capitalismo é alguém ganhar dinheiro com os nossos excrementos, a sociedade oureense calou-se, consentindo. Ou melhor, borrou-se para o assunto!*

Qual não é pois o espanto, a notícia do possível abandono da promessa, tapando as “só vantagens” com obstáculos e inconvenientes e, hábeis a fazer listas para justificar as suas teses, apresentam entre as suas razões o fim do investimento por “tendência pouco positiva na evolução da população do concelho”. Visto assim, este argumento até assusta porque pode justificar a inércia generalizada em todos os empreendimentos e merece por isso o contraditório.

É que pode também dizer-se que “não me apetece ir reproduzir porque não tenho saneamento básico”! Não vá é alguém responder: nesta matéria é preferível continuarmos numa situação terceiro-mundista (como lhe chamou o presidente da câmara)  uma vez que nesses meios há mais nascimentos.

E vai daí, com o aprofundamento destas formas de argumentário político, corremos o risco de acabar a monte de jornal na mão. Espero que, então, prosas destas não provoquem em certos leitores a vontade e o prazer de, fitada a triste figura que encabeça esta coluna, se venham a aliviar fazendo um telefonema para dar a esta folha o destino que sabemos. 

* O que não foi o caso do eleito da CDU na assembleia municipal de 04.10.2012, em que votou contra a modalidade proposta, e na de 27.09.2012, em que fez uma intervenção que, sublinhando a necessidade do alargamento do saneamento básico, "arrasou" a proposta do executivo.

publicado no Notícias de Ourém

2 comentários:

  1. A minha opinião sobre o saneamento básico é simples: sou contra a tal parceria que, pelos vistos, já não se faz; enquanto não houver melhores condições, o município deve fazer (ir fazendo) o que as disponibilidades orçamentais forem permitindo; tanto quanto percebo, o PCP/CDU assume, nesta como noutras situações, a posição fácil de votar contra, ou de fazer os comentários que muito bem entende, é um direito que lhe assiste, mas não se sabe, concretamente, o que faria, como faria, ou deixaria de fazer, se tivesse que tomar uma decisão.

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  2. Ora aí está. A CDU tem tratado deste tema nas suas campanhas. Para simplificar, diria, como o anónimo (porquê?), que se "deve fazer (ir fazendo) o que as disponibilidades orçamentais forem permitindo",, a partir de prioridades estratégicas definidas. Aconselha-se, também, que se veja o que, até neste blog, prova que o PCP/CDU nem sempre vota contra e, concretamente, tem alternativas para o que vota contra.

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