domingo, 6 de julho de 2014

És um Homem ou és uma couve?


Volta e meia acusam-me de ser uma pessoa com apenas dois assuntos: Politica e plantas. Naturalmente discordo, é que as Plantas também contém politica apesar de não a serem.
Por absurda que pareça esta intercessão Politica, a diferença fundamental entre a organização do Reino Vegetal e a organização Social do Homem, nem sempre parece óbvia ou aparece sequer nas politicas. Numa dominam as relações profundas de dependência dos factores naturais, na outra, apesar da necessidade desses mesmos factores naturais, o Homem actua e dominou uma parte desses recursos em seu proveito, nem sempre com proporção e muito menos justiça, apesar da tendência natural para o equilíbrio entre o Homem e o seu Meio continuar a ser a força motora dos acontecimentos que Lhe permitiram a ocupação, sobrevivência, desenvolvimento e multiplicação na geografia do mundo.

 Ao longo dos milénios tornámo-nos um ser  social cada vez mais complexo e organizado, com algumas variações e muitas assimetrias nas várias regiões do humanidade e, claríssimo, dentro de cada uma delas.
Todo o Desenvolvimento atingido permitiria, agora mesmo, a garantia de satisfação de todas as necessidades da Humanidade, tomando apenas aquelas inscritas na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

E de botânica ou agricultura, sabemos que as plantas não tem direito à educação ou à saúde, e muitas vezes nem direito a um oikos ou sítio onde existir. As plantas apesar de terem organizações sociais, (a Fitossociologia caracteriza os conjuntos de plantas que geralmente co-habitam em determinadas áreas) podem entreajudar-se e ter relações complexas de mútuo benefício sem expressar emoções detectáveis ou desenvolverem órgãos colectivos complexos,  sintetizam açucares a partir do dióxido de carbono! detectam a luz, a escuridão, o contacto, atraem animais polinizadores, dispersores, às vezes predadores dos seus predadores, e, ainda produzimos com elas quantitativamente, 80% do alimento da Humanidade. 

As plantas fazem tudo isto e apesar disso não sabem ler nem escrever. A verbalização é discutível, há os que falam com elas ( misturar água, ou retirar água à fala resulta na maioria dos casos) mas relatos das ouvirem, são geralmente delírios inofensivos ou problemas de saúde.
Direitos das Plantas quase só os dos privilégios da agro-indústria. injusto! Deviam ter muitos mais, são os Produtores primários, com tantas necessidades e benefícios que nos satisfazem, não é?
Se calhar era preciso que aparecesse aí um Carvalho de corrida, lutando pelos direitos dos seus pares vegetais. Direitos que contrabalançassem a luta de classes entre os matos, prados, sapais, dunas e bosques e os campos agrícolas, habitacionais, industriais, eucaliptais e recreativos.

 Um Carvalho de corrida que lutasse também por nós caro cidadão, enquanto nos roubam o direito à Saúde, à Educação e ao Trabalho, podíamos finalmente não fazer nada,  ficar fora disto, - aproveitar e ficar fora disto em casa, ficar fora disto a passear, ficar fora disto no Desemprego e vice-versa, ficar fora disto na Escola, ficar fora disto no Centro de Saúde, ficar fora disto nos Transportes enfim, desligar o Cidadão e tirar o Carvalho de corrida do pousio. Responsabilizá-lo.

Um Carvalho de corrida bem entroncado, é tão útil como o Cidadão alienado. Não há nenhuma razão objectiva para achar que a apatia social e politica do Carvalho de corrida seja inferior à do Cidadão. Um Carvalho de corrida cheio de angústias vegetais pode muito bem, por analogia, desejar com mais firmeza travar esta evolução para uma espécie de couve ou outra hortaliça qualquer, onde já muitos vegetamos, sem distinção nenhuma mesmo entre os mais distinguidos, que raríssimas vezes são distintos.


Desabrolhem-se! 
Marco Jacinto
publicado no Notícias de Ourém de 3 de Julho de 2014

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